
O presidente Donald Trump está trabalhando duro, desmantelando a democracia americana, criando um Estado autoritário reacionário. Em agosto, numa tentativa de assumir o controle pessoal e absoluto do governo federal em movimentos sem precedentes e de legalidade duvidosa, demitiu três altos funcionários do governo.
Primeiro, ele pôs para fora a comissária do Bureau of Labor Statistics (Departamento de Estatísticas do Trabalho), Erika McEntarfer, alegando que ela havia “falsificado” os números do emprego para fazer parecer que as políticas econômicas de Trump estavam fracassando. Depois demitiu Lisa D. Cook, governadora do Federal Reserve Bank, o banco central dos EUA, acusando-a de fraude hipotecária (coisa que não havia conseguido ainda até o fechamento desta edição, devido à autonomia do Fed). Finalmente, demitiu Susan Monárez, diretora dos Centros de Controle de Doenças (CDC), porque ela resistiu às políticas de saúde anticientíficas e perigosas do secretário da Saúde, Robert Kennedy Jr. Nenhum outro presidente demitiu chefes de instituições praticamente sacrossantas, que regulam a economia dos EUA e protegem a saúde pública.
Ao realizar esses assassinatos políticos no mais alto nível do governo, Trump também afirmou seu poder nas ruas das cidades americanas. Quando o povo de Los Angeles angelinos protestaram contra as batidas e prisões em massa de imigrantes realizadas por Trump, levando a confrontos entre manifestantes e a polícia da capital da Califórnia, Trump federalizou a Guarda Nacional. Enviou para LA dois mil guardas, 700 fuzileiros navais dos EUA e muitos agentes do ICE (a famigerada instituição anit-imigrantes) em junho. Tanto a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, quanto o governador da Califórnia, Gavin Newsom, consideraram a ocupação militar de parte da cidade desnecessária e autoritária.
Em meados de agosto, Trump declarou uma “emergência criminal” na capital do país e assumiu o controle da Guarda Nacional de Washington D.C., e do departamento de polícia da cidade. No dia 8 daquele mês, enviou centenas de funcionários federais de outras agências, como o Federal Bureau of Investigation (FBI), para começar a patrulhar as ruas de Washington. Embora Washington tenha áreas com altos índices de criminalidade, na verdade, os índices de homicídios e outros de cunho mais violento vêm caindo. Como Washington D.C. é um distrito federal e não um estado, ele tem o poder constitucional de assumir o controle da cidade. Mas ele também prometeu enviar agências federais e tropas para Chicago, Nova York, Baltimore e Oakland, todas governadas por democratas.
Quando Trump anunciou que enviaria tropas da Guarda Nacional e agentes federais para a Califórnia, o governador do estado, Gavin Newsome, entrou com uma ação na justiça federal e obteve uma ordem de restrição temporária. Ele disse: “A ação do presidente de voltar as forças armadas é contrária a seus próprios cidadãos; ameaçou nossa democracia e nos levou perigosamente perto do autoritarismo. Continuaremos a defender nossa democracia e os direitos de todos os americanos”.
Em Illinois, tanto o governador J.B. Pritzker quanto o prefeito de Chicago, Brandon Johnson, condenaram o plano de Trump de enviar tropas federais, dizendo que era desnecessário e uma ameaça à democracia americana. Cerca de 19 governadores do Partido Democrata também afirmaram que não querem que Trump envie soldados e policiais federais para seus estados. As tropas e agentes de Trump contribuem pouco para o policiamento, mas estabelecem as bases para um futuro golpe militar.
O “No Kings Day” (Dia Sem Reis), protesto pacífico realizado em todos os Estados Unidos em 14 de junho de 2025, foi o maior protesto em um único dia na história dos EUA, mas em agosto os protestos diminuíram.
A Democratic Socialist of America (DSA), a maior organização socialista do país, com 80 mil membros, realizou sua convenção em Chicago no mês passado. Os muitos grupos da DSA — à esquerda, direita e centro — discutiram sobre procedimentos e aprovaram uma resolução em apoio à Palestina, mas promoveram pouca ou nenhuma discussão sobre a política americana e a questão de como deter Trump.
O outono está quase chegando e podemos esperar protestos maiores, à medida que os estudantes voltam para seus campi e as pessoas voltam ao trabalho. Estaremos nas ruas com milhões de outras pessoas.
31 de agosto de 2025
Dan La Botz foi membro fundador do Teamsters for a Democratic Union (TDU). Ele é autor de Rank-and-File Rebellion: Teamsters for a Democratic Union (1991). Ele também é coeditor da New Politics e editor da Mexican Labor News and Analysis.