
Dois anos após o início do genocídio em Gaza, a população sofre bombardeamentos incessantes, uma fome organizada e ataques dirigidos a jornalistas e ao pessoal de socorro. A propaganda israelense, divulgada pelos seus aliados, já não esconde o caráter colonial e genocida das suas políticas, enquanto a resistência palestiniana e internacional continua.
O verão foi infernal para os habitantes de Gaza: às temperaturas extremas, sem água potável, sem produtos de higiene, sem comida, somaram-se as ordens de evacuação, os bombardeios, as destruições sistemáticas, os acampamentos e os problemas de higiene. Quase 500 pessoas morreram de fome desde que a fome foi declarada pelas instâncias internacionais, nomeadamente pela ONU. As zonas de distribuição “humanitária” continuam a ser armadilhas mortais. Não há palavras para descrever o horror. Também faltam testemunhas: Israel tem como alvo os jornalistas. O emblemático Anas el-Sharif foi assassinado com quatro colegas, elevando para mais de 210 o número de jornalistas mortos — um “recorde” mundial. Israel também utilizou a técnica do double tap, que consiste em atingir duas vezes o mesmo local com alguns minutos de intervalo para matar o pessoal de evacuação e os jornalistas.
Propaganda e práticas genocidas
O massacre do hospital Nasser é um exemplo disso. Israel primeiro falou de um “terrível acidente”, depois afirmou ter alvejado uma “câmera do Hamas”. Israel alega “limitar as baixas civis”, mas um relatório de seus próprios serviços revela que 83% das vítimas palestinas são civis. Israel financia influenciadores de extrema direita para negar a fome em Gaza, enquanto membros do governo fazem declarações explicitamente genocidas. Smotrich apela à destruição do povo de Gaza e anunciou a anexação de facto de uma grande parte da Cisjordânia, a zona E1, que dividirá o território praticamente em dois. O ministro da Defesa Katz evoca “catástrofes obscuras” e “maldições sobre os primogênitos” no Iêmen, pouco antes de assassinar metade do governo houthi. Israel continua bombardeando o sul do Líbano, violando o cessar-fogo e se recusando a assinar um para Gaza, apesar da aceitação pelo Hamas de todas as suas condições. Israel tornou-se inimigo de todos os povos da região.
Uma resistência obstinada
Se Benyamin Netanyahu recusa o cessar-fogo, é para continuar a invadir Gaza e esvaziar o território de sua população palestina. Mas, no terreno, essa batalha está longe de ser vencida pelo exército de ocupação. Os diferentes grupos armados demonstram uma coordenação eficaz. As perdas humanas e materiais israelenses se acumulam, e Netanyahu tem grande dificuldade em obter reforços. Desarmar o Hamas continua sendo um objetivo inatingível. Em agosto, todas as facções combatentes afirmaram sua determinação durante uma conferência no Cairo. A resistência popular internacional não fica atrás: as manifestações continuaram durante todo o verão, a pressão sobre os governos ocidentais é forte, e a demissão de metade do governo holandês sobre a questão palestina é um sinal disso. Vários países europeus estão considerando renegociar seus acordos comerciais com Israel. A nova frota do Sumud, que partiu de Barcelona e Marselha neste fim de semana com dezenas de barcos e 44 países representados, ilustra essa solidariedade internacional. Essas iniciativas são um ponto de apoio que deve ser ampliado.
Cumplicidade internacional persiste
Os principais Estados ocidentais continuam cúmplices de Netanyahu. Os Estados Unidos revogaram os vistos de todos os palestinos convidados para a Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque no final de setembro, onde deveria ser proferida uma declaração “histórica” de reconhecimento do Estado palestino pelos últimos Estados que ainda não o tinham feito. Essa ofensa se soma à humilhação de ver um Estado palestino ser reconhecido sem que o genocídio seja reconhecido. Dois anos após seu início, iniciativas massivas devem relançar a solidariedade internacional. Na França, em torno da crise governamental e da mobilização do dia 10, questionar um governo cúmplice de um Estado genocida deve ser uma questão central.