Os socialistas do DSA (sigla em inglês de Socialistas Democráticos da América) contam hoje com mais de 80 mil membros, muitos dos quais aderiram após a segunda eleição de Trump e a vitória de Zohran Mamdani nas primárias do Partido Democrata para a prefeitura de Nova Iorque. Paul Le Blanc relata a convenção da agremiação, que ocorreu de 8 a 10 de agosto de 2025 em Chicago.
Segundo Stephan Kimmerle, participante-observador por Seattle, “uma onda de radicalização está fervilhando atualmente em todos os Estados Unidos, um fenômeno que reflete o aumento da resistência contra Trump, o genocídio na Palestina e um novo ciclo de campanhas eleitorais socialistas. A esquerda desses movimentos encontra expressão organizada dentro do DSA. Tudo indica que a DSA está prestes a ganhar um novo impulso e provavelmente ultrapassará os 100 mil membros nos próximos meses.” (1)
É importante compreender que 100 mil membros é o número de filiados no papel, não o número de membros ativos. Minha cidade natal, Pittsburgh, ilustra bem essa realidade. Em Pittsburgh, o número de membros oficiais oscilou em torno de 700. Entre eles, entre 400 e 500 são membros “em dia” (que pagaram suas contribuições). Entre essas pessoas, cerca de 10% podem ser consideradas ativas, no sentido de que participam das reuniões mensais reservadas aos membros (que são híbridas, presenciais e online) ou participam de um grupo de trabalho. Quando comecei a participar das reuniões mensais presenciais, geralmente convivia com 50 e 80 participantes em cada reunião.
Em nível nacional, isso corresponderia a um total de membros ativos da DSA entre 8.000 e 10.000, o que continua sendo uma força considerável e certamente torna a DSA o grupo de esquerda mais importante dos Estados Unidos atualmente. Uma fonte inestimável para aqueles que buscam compreender a política da DSA é uma nova coletânea editada por Stephan Kimmerle, Philip Locker e Brandon Madsen, A User’s Guide to DSA: 5 Debates That Define the Democratic Socialists (2) [Um guia do usuário para o DSA: cinco debates que definem os socialistas democráticos.]
Os participantes da Convenção
O órgão decisório supremo do DSA é a Convenção Nacional de Delegados, que se realiza a cada dois anos, após vários meses de discussões escritas e orais. As convenções elegem uma direção nacional, tomam decisões sobre estruturação, política, campanhas, etc. São muito regulamentadas, pesadas (alguns diriam pesadas demais) em termos de procedimento, mas relativamente democráticas.
Na Convenção Nacional de 2025 em Chicago (de 8 a 10 de agosto), cerca de 1.500 pessoas estiveram presentes, quase todas membros da DSA e em sua grande maioria delegados eleitos. Se examinarmos o número de pessoas que votaram nas diferentes resoluções e moções apresentadas à assembleia, esse número geralmente oscilou entre 1.100 e 1.200 - o máximo que registrei foram 1.229 -, o que elevaria o número de observadores oficiais (como eu) e convidados para cerca de 271.
Havia uma grande maioria de jovens: alguns adolescentes, mas principalmente pessoas na faixa dos 20, 30 e 40 anos. As pessoas na faixa dos 50 e 60 anos eram relativamente menos numerosas, com apenas algumas pessoas na faixa etária dos 70-80 anos. Embora a maioria dos presentes pudesse ser identificada como “branca”, havia um número significativo de pessoas de origem hispânica, africana, sul-asiática, leste-asiática e do Oriente Médio. A proporção entre mulheres e homens me pareceu bastante equilibrada, com uma parcela significativa de pessoas que se identificavam como trans e não binárias. O que me chamou particularmente a atenção foi que a grande maioria das pessoas presentes parecia se considerar parte de uma classe trabalhadora diversificada em termos profissionais. Essa identificação de classe parecia estar no centro das discussões durante a Convenção.
Essa centralidade do tema de classe expressou-se no fato de que os temas que costumam aparecer nas conferências de esquerda (análise de identidades, abolicionismo moderno, racismo e antirracismo, feminismo, direitos dos homossexuais, explicações de teorias, crise ambiental, etc.) não estavam no centro das discussões. Algumas dessas questões já estavam, na verdade, integradas nas perspectivas dos participantes, mas o vocabulário e a orientação de suas discussões se concentravam na aplicação política concreta de um marxismo voltado para a classe trabalhadora e que visa substituir o capitalismo pelo socialismo ou pelo comunismo.
Orientações políticas no congresso e dentro da DSA
Aparentemente, a maioria dos participantes era de militantes sérios, e a grande maioria permaneceu durante as sessões em que as diferentes resoluções foram apresentadas, discutidas, debatidas e votadas. Houve uma quantidade assustadora de emendas propostas (algumas aprovadas, outras não), moções de ordem, lembretes do regimento, contestação das decisões do presidente, etc., o que transformou grande parte da convenção em uma provação bastante penosa. Mas a maioria dos camaradas pareceu se manter firme e foi capaz de votar com conhecimento de causa quando chegou a hora.
Embora eu tenha uma tendência a desconfiar dos diversos agrupamentos internos — que inicialmente considerava essencialmente parasitários e artificiais, sem utilidade —, minha participação no congresso me levou a considerá-los agora como um componente relativamente natural da organização, elemento que contribui para promover uma cultura democrática interna, benéfico para o seu desenvolvimento. Embora inicialmente houvesse uma tendência para agrupar as diferentes correntes (3) num bloco de esquerda e num bloco de direita, a situação real sugere a existência de três blocos, embora isso continue a evoluir e a realidade no terreno impeça reduzir a organização a esquemas simplistas. Mas, antes de mais nada, identifiquemos esses três blocos (4).
1. Uma ala moderada que enfatiza o trabalho de massa, busca que o DSA encontre eco em um público muito amplo da classe trabalhadora, adota uma abordagem oportunista em relação aos eleitos do DSA (pelo Partido Democrata) e se volta para os “progressistas” do partido, e os líderes do movimento operário. Esta representa uma certa continuidade com os fundadores da DSA, como o falecido Michael Harrington. Até recentemente, a sua orientação dominava a DSA, mas isso mudou de forma espetacular. As correntes da DSA que representam esta orientação incluem a Groundwork (Trabalho de Base) e o Socialist Majority Caucus (Caucus da Maioria Socialista), ainda bastante importantes. À direita desta ala encontra-se a North Star, bastante pequena, mas mais explícita na sua adesão à tradição de Harrington.
2. Uma ala de extrema esquerda que tende a romper definitivamente com as perspectivas progressistas-reformistas privilegiadas pela ala moderada. Ela reflete, em geral, o sentimento dos militantes do movimento pela Palestina e também inclui partidários de uma variante “campista” do “anti-imperialismo”, que consiste essencialmente em alinhar-se com todas as forças do “campo” oposto ao império americano, sem fazer críticas ou fazendo poucas críticas a elas. (Dentro desse “campo” encontram-se ditaduras autoritárias, algumas se autodenominando socialistas, outras conservadoras e abertamente anti socialistas, e até mesmo ultra religiosas em alguns casos.) Essa ala do DSA inclui o Red Star (estrela Vermelha) e Springs of Revolution (Primaveras da Revolução).
3. Uma centro-esquerda marxista que busca combinar uma orientação para as massas trabalhadoras com uma estratégia voltada para a construção de um partido socialista independente, ao mesmo tempo em que promove a luta de classes e as ideias socialistas nos movimentos sociais e sindicais. Isso inclui o coletivo Bread and Roses (Pão e Rosas), Reform and Revolution (Reforma e Revolução) e Marxist Unity Group (Grupo Unidade Marxista). No entanto, dentro de cada uma dessas organizações, há uma variedade de perspectivas, com uma divisão explícita entre a minoria (a antiga liderança) e a maioria dentro da Reform and Revolution. Uma parte do Bread and Roses deseja evitar uma ruptura definitiva com a ala moderada, enquanto algumas facções da Reform and Revolution e do Marxist Unity Group não querem se distanciar das perspectivas da ala extrema esquerda.
Dada a complexidade acima mencionada, existe uma tendência positiva dentro dos diferentes grupos para ouvir e levar a sério as opiniões dos camaradas pertencentes a outros grupos. Há até militantes reflexivos que se juntam a outra corrente quando estão convencidos das perspectivas defendidas por esta.
O DSA como um todo passou de uma orientação moderada para uma orientação mais à esquerda. No congresso de 2023, e novamente em 2025, o movimento para a esquerda se acentuou, refletindo a radicalização que continua dentro da DSA e no mundo em geral.
Recentemente, novos grupos surgiram. O Carnation Caucus (Caucus Encarnado) apresentou um programa quadrienal com o objetivo de colocar a organização em uma órbita que combina o marxismo de centro-esquerda e as perspectivas da extrema esquerda, insistindo que o DSA deve ser considerado um partido político. Outra corrente recém-formada se descreve como “Libertação – Um caucus marxista-leninista-maoísta” e defende posições que ainda não fazem sentido para muitos membros.
Existem também correntes que não se enquadram diretamente em nenhum dos três blocos – algumas tendem a se sobrepor a dois blocos, outras evoluem de uma maneira que não permite que sejam classificadas em nenhum dos dois. Na primeira categoria, encontram-se dois grupos que são descritos sucintamente no Guia do Usuário da DSA. O Communist Caucus (com o qual sinto uma certa afinidade) é descrito da seguinte forma: “Um caucus comunista multitendências. Concentra-se principalmente no trabalho de campo e no desenvolvimento da implantação na base, incluindo a organização dos inquilinos”. O Emerge é descrito de forma semelhante: “Um caucus comunista multitendências dentro do DSA-NYC [DSA da cidade de Nova York]. É ativo nas áreas do anti-imperialismo e da organização de inquilinos”. Existe também o Libertarian Socialist Caucus (Caucus dos Socialistas Libertários), influenciado pelo anarquismo, uma formação séria com projetos populares, mas que, como comentam os editores do User’s Guide to DSA, “na verdade são uma exceção à esquerda do DSA – a maioria dos outros membros da esquerda organizada do DSA vem de caucus que reivindicam o marxismo como base ideológica”.
Tenho a impressão de que a maioria dos membros da DSA a nível nacional são como os de Pittsburgh: a maioria não faz parte de nenhum grupo. Mas apreciam as ideias, as contribuições e o empenho dos membros das diferentes correntes e estão totalmente dispostos a votar em grande parte deles para representar Pittsburgh na convenção nacional. No entanto, não estão alinhados e tendem a pensar por si próprios, sob a influência de grandes acontecimentos e da sua própria experiência.
Debates, decisões, discussões
Os três dias do congresso da DSA foram muito intensos. Um relato detalhado poderia talvez ser apresentado de forma adequada em um livro, não em um relato breve como este. Foram mais de treze horas de deliberações, repletas de relatórios, resoluções, emendas, moções de ordem, lembretes ao regimento, votações e outros, envolvendo os 1.100 a 1.200 delegados.
Esses momentos difíceis, mas inevitáveis, foram distribuídos ao longo dos três dias, entre a manhã e a tarde, às vezes intercalados por um discurso introdutório, ou por um ou dois blocos de discussão programática, e discursos de agradecimento de alguns camaradas eleitos para cargos internos e, em alguns momentos, até mesmo belas canções interpretadas pelo coro Sing in Solidarity. Há simplesmente muito o que contar se não quisermos nos contentar com notas rápidas e esboços relativamente impressionistas.
Os debates durante a convenção abordaram essencialmente as seguintes questões:
• Que estruturas e orientações permitiriam garantir uma maior participação e um melhor controle dos membros do DSA, bem como uma maior coesão e eficácia?
• Como alcançar da melhor forma a independência em relação ao establishment do Partido Democrata, com especial atenção para a eleição presidencial de 2028?
• O que esperar dos candidatos apoiados pelo DSA? E também: em que consiste esse apoio? (Companheiros que colaboram na campanha? Consulta e colaboração contínuas entre o DSA e o candidato?) O que esperar de um candidato apoiado? Ele ou ela deve se apresentar como um socialista declarado, com um programa elaborado com a participação do DSA? Se o candidato for eleito, como podemos garantir que ele prestará contas?
• Até que ponto o DSA deve se mover para a esquerda para permanecer fiel aos seus princípios socialistas fundamentais?
• Como implementar da melhor forma um internacionalismo autêntico e relevante (envolvendo questões como imperialismo e anti-imperialismo, relações com diversas organizações e coalizões, solidariedade com a Palestina e as especificidades do antissionismo, bem como a questão do “campismo”)?
O debate foi construído em torno de resoluções de motivação, apoio ou oposição que deveriam ser votadas. Um delegado experiente da DSA de Pittsburgh expressou assim o sentido geral da direção tomada pela organização:
• Nossa organização está decididamente voltada para 2028: vamos preparar uma ação para o 1º de maio de 2028; definimos uma série de tarefas que nossa organização deve realizar para estar pronta (5). Vamos lançar uma campanha para uma candidatura presidencial da esquerda sindical em 2028 (6).
• Lutar contra o fascismo: vamos nos opor a Trump lutando contra as expulsões e tornando a abolição do ICE (7) uma prioridade (8), e dando continuidade ao trabalho do “Comitê de Resposta à Administração Trump” (TARC) (9).
• Reafirmação de nossos compromissos com a Palestina e o internacionalismo: reafirmamos nosso envolvimento no trabalho internacional e no trabalho do BDS (10), adoção sem emendas da resolução antissionista (11).
• Atualizaremos nosso programa, com uma comissão encarregada de atualizar o documento “Os trabalhadores merecem mais e melhor” para adaptá-lo à situação política atual (12).
• As eleições continuam sendo uma prioridade: as eleições continuarão sendo uma prioridade importante para nossa organização, a convenção decidiu contratar mais duas pessoas para cuidar das eleições. O apoio federal por parte do Nacional deverá agora ser objeto de uma comunicação ponderada e o Comitê Político Nacional (NCP) deverá se reunir com a seção local e o candidato (13).
• O movimento sindical continua a ser uma prioridade importante da nossa organização (14).
• A habitação e a organização dos inquilinos continuam a ser uma prioridade. Adotamos a resolução consensual da Comissão para a Justiça em matéria de Habitação 2025 da DSA (15), que estipula que lutaremos pelos quatro pilares da habitação social e que o nosso trabalho em matéria de habitação se centrará na criação de sindicatos de inquilinos poderosos e ativos.
Embora uma resolução firme e antissionista sobre a Palestina tenha sido rejeitada na convenção de 2023, é muito significativo que uma resolução semelhante tenha obtido 56% dos votos na convenção de 2025, com 44% contra. Um dos pontos controversos dizia respeito às novas normas que os candidatos deveriam cumprir para poderem se beneficiar do apoio da DSA: apoio total e público ao movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) e à luta palestina. Isto pareceria excluir o apoio do DSA a muitos candidatos que apoiou até agora, incluindo Bernie Sanders. “No entanto”, observa Stephan Kimmerle, “caberá ao novo Comitê Político Nacional (NPC) interpretar essa resolução, e mesmo as pessoas que a apresentaram insistiram que o DSA permaneceria flexível em sua implementação”.
Uma das decisões que muitos de nós lamentamos diz respeito ao destino de uma emenda à resolução internacional que questionava explicitamente as perspectivas campistas, que foi rejeitada por 43% dos votos a favor e 56% contra.
Foi dada especial atenção à forma como os candidatos apoiados pelo DSA conduzirão suas campanhas e exercerão suas funções uma vez eleitos. A resolução consensual apresentada pelo Comitê Eleitoral Nacional da DSA, que foi aprovada, enfatizava a apresentação de candidatos que representassem o DSA e fossem provenientes de suas fileiras, em vez de simplesmente apoiar “democratas progressistas” que precisavam de apoio. A resolução exigia que os candidatos apoiados se declarassem abertamente e com orgulho como membros do DSA e do socialismo, incentivando expressamente as pessoas a se filiarem ao DSA” e “se apresentassem publicamente como ‘socialistas’ ou ‘socialistas democratas’”. A resolução exorta as seções locais a exigirem que os candidatos se comprometam “a construir uma lista socialista e a demonstrar independência política”. É claro que ainda resta saber como essa política será realmente aplicada.
Muitas resoluções — que não puderam ser discutidas nem votadas por falta de tempo — foram finalmente encaminhadas ao Comitê Político Nacional (NPC), que assegura o funcionamento da organização entre seus congressos bianuais.
As eleições para o NPC que ocorreram durante a convenção são outro sinal da guinada à esquerda da organização. Dos 24 assentos do NPC, apenas 9 foram atribuídos a membros das correntes moderadas, enquanto 18 foram para pessoas associadas à esquerda – que acabaram por se dividir igualmente entre 9 assentos conquistados pelas correntes da ala extrema esquerda e 9 assentos conquistados pelas correntes do bloco marxista de centro-esquerda.
No entanto, é importante não dar a isso mais importância do que realmente tem. “Nosso novo NPC está ‘mais à esquerda’”, comentou um delegado experiente de Pittsburgh, “mas ainda resta saber o que isso significará”. Isso se deve ao desejo de muitos militantes (mas não todos) de várias correntes de evitar cisões e divisões que poderiam enfraquecer o DSA. Ao mesmo tempo, algumas correntes são extremamente flutuantes e, neste período de instabilidade, é impossível prever como a situação interna vai evoluir.
Além disso, houve discussões durante o congresso — sem relação com as resoluções ou votações — que deram uma ideia muito viva das perspectivas políticas que prevalecem hoje dentro do DSA. Entre elas, podemos citar: um discurso notavelmente radical de Rashida Tlaib e a resposta da Convenção a ele; apresentações dos principais organizadores da campanha municipal de Zohran Mamdani em Nova Iorque; um dinâmico “primeiro intercâmbio político interorganizacional” de três horas (dois minutos por interveniente) no qual participaram convidados de vários movimentos e lutas, intercalado com contribuições de membros da DSA ativos nessas lutas.
Intervenções eloquentes e significativas foram feitas por membros do Sindicato dos Professores de Chicago, do Caucus of Rank-and-file Electrical Workers (CREW, algo como Caucus da Base dos Trabalhadores Eletricitários), do Essential Workers for Democracy (Trabalhadores dos Serviços Essenciais pela Democracia), de uma corrente de base da National Association of Letter Carriers (Associação Nacional dos Transportadores de Correspondência), do Railroad Workers United (sindicato das ferrovias), do Arise Chicago Workers Center, do Debt Collective, do Sunrise Movement, do BDS e do Palestinian Youth Movement, do PSOL e do PT do Brasil, do Partido dos Trabalhadores da Bélgica, de La France insoumise, do Morena do México, da Democracia Socialista de Porto Rico e dos Socialistas Democratas do Japão.
O discurso de Rashida Tlaib foi recebido com aplausos e uma ovação de pé. Stephan Kimmerle o apresenta assim: “A deputada Rashida Tlaib, oradora principal, dirigiu-se à convenção com uma mensagem poderosa e comovente contra a guerra na Palestina. Ela estabeleceu uma ligação entre os votos do Congresso que financiam o genocídio e a falta de financiamento para reformas como o seguro de saúde para todos e o acesso à água potável. Tlaib condenou o ‘establishment dos dois partidos’ por seu papel no financiamento do genocídio, ressaltando que tanto os republicanos quanto os democratas são financiados por bilionários.
Ao contrário de Alexandria Ocasio-Cortez e manifestamente crítica em relação a ela, Tlaib declarou: “Uma arma é uma arma”. AOC votou em julho a favor do financiamento pelos Estados Unidos do Domo de Ferro israelense, justificando seu voto dizendo que há uma diferença entre o fornecimento de armas “defensivas” e armas “ofensivas” a Israel. Por outro lado, Tlaib e Ilhan Omar votaram corretamente contra. AOC votou então contra todo o projeto de lei sobre o financiamento do exército.
Tlaib se pronunciou contra os “sistemas capitalistas de exploração” e destacou que “as massas trabalhadoras anseiam por mudanças revolucionárias... É por isso que a DSA é tão importante. Somos capazes de diagnosticar de forma honesta e sincera os problemas enfrentados pelos americanos da classe trabalhadora”. Ela exortou o DSA – usando o “nós” para se referir à organização – a falar uma linguagem compreensível para os trabalhadores, que os democratas e republicanos abandonaram, a fim de explicar “o que o socialismo democrático pode significar para suas vidas”. Tlaib exortou a DSA a orientar seu trabalho para a grande massa da classe trabalhadora e a atrair mais pessoas de cor para nossa organização, convencendo-as das ideias socialistas democráticas – tarefas essenciais para a DSA.
É relevante para os marxistas revolucionários militar no DSA?
A realidade da DSA, tal como se revelou no congresso, era qualitativamente diferente do que eu imaginava. O DSA é muito mais à esquerda do que eu pensava, muito mais crítico e inclinado a rejeitar os dois partidos capitalistas. Eu esperava uma organização dominada pela tendência moderada, com algumas possibilidades de discussão à esquerda, tarefas de formação e participação em ações sociais concretas e interessantes. O fato de ser a maior organização socialista dos Estados Unidos, de ter crescido espetacularmente e de contar com um grande número de jovens ativistas socialistas, que fazem parte essencialmente da nossa classe trabalhadora diversificada em termos profissionais, foi um fator determinante na minha decisão, nos últimos anos, de me envolver com ela.
O que vivi com o DSA em Pittsburgh nos últimos doze meses me convenceu de que fazia sentido para mim me envolver seriamente com essa organização em nível local e que eu deveria ir à Convenção Nacional – como observador – para ter uma ideia mais precisa da organização como um todo. E isso foi uma revelação para mim. Neste relato, tentei dar uma ideia do que descobri na Convenção. Encontrei uma realidade muito mais aberta, dinâmica e radicalizada à esquerda do que eu imaginava, certamente cheia de limitações e imperfeições frustrantes, mas também aberta e em evolução, com possibilidades de contribuir para a criação de uma organização socialista mais eficaz. Há também muito a aprender com essa experiência. O DSA tem muitos problemas, mas também um grande potencial. Portanto, sim, como marxista revolucionário, acho muito sensato fazer parte dele. Não para “intervir” no DSA, mas para realmente fazer parte dele.
Parece-me igualmente útil fazer parte do Solidarity (16) e do Tempest Collective. Determinar como esses elementos se articulam entre si é um desafio que deve ser enfrentado através do envolvimento ativo nessas organizações, contribuindo ao mesmo tempo para a construção de um movimento eficaz pelo socialismo.
14 de agosto de 2025
2) Nesta obra de mais de 450 páginas, encontramos principalmente 38 artigos que apresentam um grande número de opiniões encontradas dentro da DSA. O livro está disponível em versão impressa ao preço de 15 dólares e em versão eletrônica ao preço de 9,50 dólares.
3) O texto original usa o termo caucus, que é reproduzido em francês em alguns textos e traduções.
4) Este esquema de três blocos foi retirado do relatório do congresso redigido por Stephan Kimmerle, que pertence à corrente minoritária dentro da Reform and Revolution. No entanto, senti a necessidade de modificar a forma como ele caracteriza os três blocos, a fim de aproximá-la mais da minha própria percepção.
6) Resolução “R33: Unite Labor & the Left to Run a Socialist For President and Build the Party” (Unir os sindicatos e a esquerda para apresentar um candidato socialista à presidência e construir o partido), idem.
7) O Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (United States Immigration and Customs Enforcement – ICE) é uma agência federal cujo objetivo principal é combater a imigração ilegal. Nos últimos meses, ela se destacou por intervenções violentas e arbitrárias.
8) Resolução “R26: Lutar contra a repressão fascista do Estado e o ICE”, idem.
9) Resolução “R05: Combater o fascismo, construir o socialismo”, idem.
10) Resolução “R36: Uma estratégia socialista democrática unificada para a solidariedade com a Palestina”, idem.
11) “R22: Por um DSA antissionista combativo”, idem.
12) Pela adoção sem emendas da resolução “R34: Os Trabalhadores Merecem Mais, Para Sempre: Por um Programa Coerente e Contínuo Adequado ao Crescimento Político da DSA”, idem.
13) As seções locais podem sempre optar por não solicitar o apoio da Nacional, o que deve ser o caso da seção local de Nova York em relação a Alexandra Ocasio Cortez.
14) Adotamos a CR10: Resolução consensual da Comissão Nacional Sindical da DSA: Construir um movimento sindical liderado pelos trabalhadores (conforme alterada pelas CR10-A02, CR10-A03 e CR10-A04).
15) «CR06: Resolução Consensual da Comissão de Justiça Habitacional da DSA de 2025».
16) Solidarity, que edita a revista Against The Current, é a seção da IV Internacional nos Estados Unidos. Solidarity e a Internacional mantêm relações com Reform and Revolution, com o coletivo que edita Tempest e com camaradas da Bread and Roses.
(*) Paul Le Blanc é historiador. Foi membro do Socialist Workers Party e depois da Solidarity, seção dos Estados Unidos da IV Internacional.
Publicado originalmente pelo site australiano Links.
