Entre sete e oito milhões de pessoas participaram de uma das 2.600 manifestações organizadas em 18 de outubro em centenas de cidades dos EUA, um dos maiores dias de ação já organizados no país.
Kay Mann*
As manifestações de outubro foram uma resposta à militarização das cidades governadas por prefeitos democratas, imposta pela Casa Branca de Trump, de sua campanha contínua de terror contra as comunidades imigrantes e de uma repressão macarthista contra qualquer contestação, que se acelerou fortemente após o assassinato do militante de extrema direita Charlie Kirk em 10 de setembro.
A jornada de mobilizações deu continuidade àquelas de 5 de março e 14 de junho, que mostraram a energia e a capacidade de mobilização de amplos setores da população, determinados a se opor à liderança reacionária e autoritária de Trump e seus assessores. Os protestos de 5 de março marcaram o início de um movimento anti-Trump, centrado na questão dos direitos democráticos, mas também na oposição aos ataques do morador da Casa Branca contra pessoas transgênero e LGBTQI+, imigrantes, o meio ambiente, o Medicare e o Medicaid (1).
Nos dias que antecederam o 18 de outubro,os políticos republicanos, em particular o presidente da Câmara dos Representantes, procuraram apresentar as manifestações como comícios “anti americanos” nos quais os “antifas” (antifascistas) e os pró-palestinos estariam em primeiro plano. Mas os atos e passeatas decorreram num ambiente festivo e familiar, com muitos manifestantes fantasiados, paradas e música. Trump respondeu logo depois com seu famoso meme gerado por IA, representando-o como um rei em um caça a jato jogando fezes sobre os manifestantes. Como todos os ditadores e aspirantes a tiranos, o presidente atual não consegue aceitar o espetáculo de uma oposição massiva, ainda mais porque as pesquisas indicam um declínio constante de seu apoio entre a população.
O movimento não é isento de fragilidades. Os protestos são, em geral, organizados por líderes de ONGs e correntes ligadas ao Partido Democrata, depois de videoconferências em massa, mas são construídos também de cima para baixo. Muitos sindicatos aprovaram as marchas, embora sua participação tenha sido pouco notada, com algumas exceções. Infelizmente, os protestos foram majoritariamente brancos, com participação limitada de afro-americanos. Uma participação mais visível dos sindicatos e dos afro-americanos na próxima série de manifestações dará mais peso ao movimento..
24 de outubo de 2025
(*) Kay Mann é ativista da organização Solidarity, seção americana da IV Internacional, e professora de sociologia na universidade.
1) O Medicare é o sistema de saúde público que protege dezenas de milhões de idosos e o Medicaid protege pessoas com renda abaixo da linha da pobreza.

