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O momento Mamdani: esperanças e perigos novos para a esquerda

O candidato Mandami em campanha numa igreja em Nova York
Mandami em campanha das primárias democratas, numa igreja novaiorquina

A dinâmica e os limites da candidatura de Zohran Mamdani à prefeitura de Nova York e seu projeto mais amplo de reforma do Partido Democrata são os temas da análise deste artigo. O autor enfatiza as lutas reais e os movimentos que permitiram que um candidato como Mamdani ocupasse o centro do palco neste momento particular da história de Nova York.

BC Hamilton*

A vitória de Zohran Mamdani nas primárias do Partido Democrata foi um referendo sobre as principais lutas sociais e de classe da atualidade — um referendo sobre o neoliberalismo tardio, um mundo em chamas e o momento Trump vivido pela classe trabalhadora multirracial da cidade de Nova York. Foi uma votação sobre a experiência da crise social para os trabalhadores da cidade: acesso à moradia, alimentos e cuidados de saúde a preços acessíveis, transporte público e educação pública. Mamdani enfrentou os bilionários (1) e a classe dominante de Nova York, que lucrou com a guerra de classes unilateral na cidade nas últimas cinco décadas e apoiou de forma esmagadora seus adversários atuais e futuros, incluindo o atual prefeito, Eric Adams, e o ex-governador, Andrew Cuomo (2).

Mais significativo talvez: sem o amplo movimento pela Palestina, a energia geracional da campanha de Mamdani não pode ser compreendida. Em medida crítica, o apoio a Mamdani é uma reação a uma campanha virulenta de bodes expiatórios e manipulação psicológica dirigida a migrantes, trans e queer nova-iorquinos e, mais importante, a qualquer pessoa (seja árabe, muçulmana, judia, etc.) que se levantou contra o genocídio em Gaza e o encobrimento sionista do assassinato em massa. Isso tem um tom particularmente pernicioso em Nova York, uma das fontes dessa política reacionária bipartidária e bem financiada.

Esta é a realidade na qual deve-se entender todas as limitações, contradições e desafios estratégicos da campanha eleitoral de Mamdani, e provavelmente da prefeitura. O apoio à sua campanha por uma ampla esquerda nova-iorquina é indissociável das lutas sociais, econômicas e políticas substantivas que estão sendo travadas dentro (e fora) da cidade de Nova York e do fato de que há um entusiasmo aparente por essas lutas. Nem é preciso dizer que a esquerda revolucionária deve ser firme em seu apoio ativo a essas lutas.

A tarefa urgente diante de nós, então, é continuar a construir um movimento organizado capaz de enfrentar as forças do capital e da reação política em Nova York, um processo que requer uma avaliação séria da estratégia e uma compreensão dos precedentes históricos. Os objetivos políticos de Mamdani — pelo quais, em sua maioria, devemos lutar incondicionalmente — serão difíceis de alcançar. Sua estratégia de reformar o Partido Democrata é, na melhor das hipóteses, equivocada e, na pior, um projeto contraditório que inevitavelmente mina a luta pela reforma que motiva a energia e o entusiasmo por trás de sua campanha. 

No entanto, o espaço político criado pela campanha de Mamdani representa uma oportunidade para a construção de uma coalizão e de um movimento que pode — e deve — ir além dos limites de uma única eleição ou candidato, visando objetivos mais amplos e profundos de mudança social sistêmica — uma coalizão preparada para lutar pelas reformas necessárias.

Contexto de uma vitória esmagadora

A cadeia de eventos que levou à vitória do autodenominado socialista democrático começa com uma crise inerente à pessoa que Mamdani espera substituir: o prefeito Eric Adams, que era republicano, tornou-se democrata e depois bajulador de Trump. A vitória de Adams, há quatro anos, nasceu da reação social da direita após a pandemia da COVID-19. Uma campanha ininterrupta de desinformação no New York Post e nos noticiários noturnos contou com fabulistas como o ex-comissário de polícia de Nova York Dermot Shea (3) para espalhar a narrativa falsa de caos e desordem. Os nova-iorquinos eram bombardeados diariamente com alegações de que as ruas da cidade estavam cobertas de sangue.

Essa operação clássica de espalhar o medo teve o efeito desejado, com Adams, um ex-policial, conquistando uma vitória por apenas 7.200 votos (Mamdani, em comparação, garantiu uma vantagem maciça de quase 117.000 votos sobre Cuomo, além de receber cerca de 140.000 votos a mais do que Adams nas primárias de 2021, em grande parte devido à sua capacidade bem-sucedida de expandir o eleitorado das primárias ) (4). Adams construiu uma coalizão de conservadores, proprietários de imóveis mais velhos, juntamente com setores da classe trabalhadora negra organizada — especialmente no sul do Queens, Brooklyn, na polícia e no Departamento de Correções de Nova York, onde tinha uma base estabelecida. 

No cargo, as políticas regressivas e ditatoriais de Adams atraíram a elite da cidade. E os nova-iorquinos da classe trabalhadora eram frequentemente alvo das políticas destinadas a soltar a polícia sobre vizinhos sem-teto e jovens negros e pardos, ao mesmo tempo em que procurava culpar grande parte da população imigrante da cidade. (Sua atual comissária da polícia é a herdeira bilionária Jessica Tisch (5), uma defensora articulada dessa violência policial e destes assassinatos (6). Os moradores assistiram Adams supervisionar o aumento contínuo dos aluguéis, os ataques a instituições essenciais como bibliotecas e o sistema escolar, e o aumento de uma crise geral de acessibilidade na cidade. Isso alimentaria a futura campanha de Mamdani.

Embora a cúpula do Partido Democrata pudesse tolerar as políticas de Adams, foi um passo além quando, em setembro de 2024, ele foi indiciado por acusações federais de corrupção (7), em parte relacionadas a seus laços de longa data com o presidente autoritário da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan (8). Quando Adams voltou às suas raízes republicanas, aliando-se a Trump para garantir a rejeição das acusações contra ele, seu status de pária entre a liderança do Partido Democrata e seus financiadores ficou (aparentemente) consolidado.

O consenso post-mortem da liderança do partido, após seu fracasso total nas eleições presidenciais dos EUA no ano passado, também teve um efeito local. Pessoas como o senador norte-americano Chuck Schumer (9) e o deputado Hakeem Jeffries — ambos da cidade de Nova York e ambos liderando suas respectivas minorias no Congresso — fizeram eco à narrativa (10) amplificada pela grande imprensa, de que os democratas perderam por abraçarem questões “woke” (11), muito à esquerda para o eleitorado em geral, nomeadamente em torno da autonomia corporal, da reforma policial, da imigração e do genocídio israelense em Gaza (12).

Quando essa avaliação levou a direção do partido a “fingir-se de morta” (13) em resposta ao regime de terror de Trump, uma tensão fundamental emergiu entre ela e grande parte da base eleitoral do Partido Democrata. Para muitos eleitores, o que a liderança do partido defendia e adotava era intolerável.

Mamdani e o Partido Democrata

Em 1º de julho, após a apuração de todos os votos no sistema eleitoral de escolha por ordem de preferência da cidade (14), Mamdani saiu na frente, de forma decisiva, superando Cuomo por 12 pontos percentuais. Enquanto Cuomo reflete se concorrerá nas eleições gerais com uma candidatura independente (15), os resultados das primárias consolidam a posição de Mamdani como o favorito em novembro, em uma cidade onde os democratas detêm uma vantagem esmagadora no número de eleitores registrados.

Apesar de Mamdani ter sido rotulado pela direita como um comunista fanático (16), ele não mencionou a revolução em seu discurso na noite das primárias. Ele deixou claro que seus objetivos eram muito mais próximos de casa, enquadrando sua campanha como parte de um esforço contínuo dos “progressistas” para reformular o Partido Democrata à sua imagem. Ele disse aos presentes que sua vitória representava “um modelo para o Partido Democrata” – economicamente populista, intransigente em posições populares entre a base, como a oposição ao genocídio israelense em Gaza – e uma rejeição ao status quo do establishment.

A resposta imediata da liderança do Partido Democrata em Nova York foi esclarecedora. Uma série de não endossos, ou endossos a Cuomo em novembro, foi comum. Quem chamou a maior atenção foi a senadora novata de Nova York, Kirsten Gillibrand, que divulgou argumentos sionistas e tentou pintar Mamdani como um apologista do Hamas em um importante programa de rádio (17). Isso foi reproduzido por outros líderes democratas, incluindo o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries (18). O fato de Gillenbrand ter sentido a necessidade de se desculpar por ter “se expressado mal” é revelador do momento. Na verdade, em palavras e ações, a liderança democrata local e nacional deixou claro que tem, na melhor das hipóteses, pouco interesse em Mamdani. E, como tem sido frequente nos últimos anos, a liderança do Partido Democrata está preparando o terreno político para uma versão possivelmente mais perigosa da política reacionária. Assim, Trump comemorou a eleição de Mamdani proclamando: “Não vou deixar esse lunático comunista destruir Nova York. . . Eu controlo tudo e tenho todas as cartas na mão. Vou salvar a cidade de Nova York.” (19)

Foi dentro dessa divisão entre a liderança e grande parte da base eleitoral histórica dos democratas que se desenrolou a eleição primária para prefeito. Com Adams se transformando em um substituto de Trump, a liderança democrata ficou procurando alguém que seguisse à risca sua doutrina do status quo. Entra Andrew Cuomo. Apesar de seu status de assassino de avós (20), o ex-governador desacreditado era confiável para assumir posições políticas praticamente indistinguíveis das de Adams — especialmente em relação ao crime —, garantindo ao mesmo tempo que um nome conhecido na política democrata de Nova York aparecesse na cédula eleitoral. Isso acabou sendo essencialmente o alcance da estratégia de campanha de Cuomo, o que não pareceu incomodar a multidão de autoridades do Partido Democrata, bilionários e apoiadores de Trump que se reuniram em torno dele como a opção segura, sensata e não socialista, com todos os seus defeitos (21).

O que essas mesmas elites haviam rejeitado era outro grupo fraco de candidatos democratas que, apesar de terem ocupado cargos municipais, não haviam feito muito para se destacar, além de não serem Andrew Cuomo. Mamdani foi a exceção. Como um socialista democrático vocal, ele promoveu ativamente uma mensagem de campanha diretamente contrária ao sionismo que tolera o genocídio, e ao neoliberalismo requentado que Cuomo representava.

Na verdade, as propostas políticas concretas de Mamdani estão bem dentro dos parâmetros de um programa progressista padrão de reformas. Embora tragam melhorias em relação ao status quo — talvez a mais importante delas seja garantir que a comissão de aluguéis não aumente os aluguéis das cerca de 1 milhão de unidades com aluguel estabilizado na cidade (22) —, suas outras propostas são um tanto modestas (lojas de alimentos públicas parecem uma boa ideia, mas estão longe de resolver a crise de insegurança alimentar na cidade de Nova York) e, muitas vezes, exigem a aprovação de outros setores do governo hostis até mesmo a políticas socialistas moderadas (novos impostos e ônibus gratuitos precisam da aprovação do estado de NY) e, francamente, não vão longe o suficiente (20.000 unidades de moradia relativamente acessíveis financiadas com recursos públicos por ano parecem muitas, até você lembrar que 60.000 nova-iorquinos estão em abrigos todas as noites) (23).

A mensagem sem concessões de Mamdani conquistou poucos aliados entre a liderança do Partido Democrata, mas teve um efeito galvanizador sobre o eleitorado. Apesar de ter sido inicialmente ignorado e, posteriormente, ridicularizado (24), Mamdani tinha o que nenhuma outra campanha conseguiu: uma operação massiva de arrecadação de fundos com centenas de doadores individuais (25), um exército de voluntários que podia se espalhar muito além de suas áreas de apoio e, mais importante, uma mensagem que falava diretamente a dezenas de milhares de eleitores da classe trabalhadora, revoltados e cansados da forma como os democratas continuavam a operar, especialmente sob os ataques diários do regime Trump.

Um socialista democrático à frente de Nova York?

Logo após as primárias, parece haver pouca ou nenhuma movimentação no sentido de uma reconciliação com Mamdani por parte do partido que ele que reformar (26). Enquanto isso, a previsível ofensiva da direita islamofóbica (27) e anticomunista (28) começou seu inevitável aumento. À medida que a campanha agora avança para as eleições gerais, o maior desafio de Mamdani não é a campanha independente do atual prefeito Adams e a eterna tentativa improvável do republicano Curtis Sliwa, um provocador e aspirante a camisa marrom (29). É a guerra que ele enfrenta como futuro prefeito da maior cidade dos Estados Unidos, tendo a oposição da liderança de seu próprio partido e estando sujeito à disposição deles de deixar a direita fazer o trabalho sujo de miná-lo incessantemente.

O salto que Mamdani está prestes a dar é sem precedentes na política moderna. As vitórias que outros candidatos alinhados com o DSA conquistaram ocorreram em distritos relativamente progressistas para cadeiras únicas em órgãos legislativos. Em Nova York, isso significou que um punhado de socialistas democráticos declarados venceram como democratas na Câmara Municipal, na Assembleia Estadual, onde Mamdani atua desde 2021, e até mesmo alguns no Senado Estadual. A congressista Alexandria Ocasio-Cortez tinha sido, até então, a candidata apoiada pelo  DSA de maior destaque a vencer (um ponto que vale a pena retomar abaixo), mas foi parar na Câmara dos Representantes dos EUA, com 435 membros.

Mamdani está prestes a se tornar não apenas o prefeito de uma cidade de 8,5 milhões de habitantes que, apesar das estatísticas de filiação partidária, são tão diversos em suas opiniões políticas e sociais quanto em qualquer outro lugar. Ele também será o chefe do executivo da cidade, responsável pela estrutura governamental municipal extremamente labiríntica e burocrática, que inclui o maior distrito escolar do país e a maior força policial do país — dos quais ele agora será o chefe. Em relação aos funcionários municipais, ele estar no topo da hierarquia administrativa. Como tal, ele também é o gestor fiscal da cidade, e será sua responsabilidade conduzir e negociar a tarefa impossível de priorizar políticas populares em meio a um processo orçamentário implacável. Uma coisa é falar em aumentar os impostos sobre os ricos, mas fazer isso é um desafio, já que a cidade tem poder limitado (30) para arrecadar fundos unilateralmente antes de ter que implorar pelo apoio do estado — uma perspectiva tão sombria quanto a visão da governadora democrata Kathy Hochul sobre o próprio Mamdani (31).

Para dizer o mínimo, este não é um sistema construído para o tipo de visão socialista do governo municipal que Mamdani assumirá, e que aqueles mais à sua esquerda jamais esperariam. Um observador recente viu o prefeito da era New Deal, Fiorello La Guardia, como o tipo de prefeito que Mamdani deveria tomar como modelo (32). Infelizmente, a analogia muito mais correta é com o prefeito Abraham Beame da era “Drop Dead” dos anos 1970, com um presidente republicano hostil e uma direção sem simpatia em Albany, a capital do estado (33).

Desde a crise fiscal da cidade que Beame teve a infelicidade de gerir, os interesses capitalistas combinados na cidade mantiveram um controle rígido sobre as ambições dos novaiorquinos da classe trabalhadora, em um dos primeiros exemplos da política de austeridade, da doutrina do choque que viria a definir o neoliberalismo (34). Infelizmente para Mamdani e os residentes da cidade nas últimas cinco décadas, esses mesmos interesses nunca deixaram de dominar a cidade e têm a capacidade de transformar rapidamente qualquer questão fiscal em um pesadelo político para um prefeito que entre em conflito com seus interesses. A experiência de Dennis Kucinich como prefeito de Cleveland na década de 1970, da mesma forma, traz uma lição de cautela (35).

Esses e outros fatores (ele não encontrará proteção contra os ataques da imprensa) se combinam em um ambiente pouco convidativo e inóspito. Isso cria uma urgência real para a esquerda construir uma força extra eleitoral capaz de se organizar e lutar para conquistar tanto as reformas mínimas prometidas por Mamdani quanto as mudanças muito mais substanciais que são necessárias.

Reformar o PD, estratégia sem chance de sucesso

Nessas condições, Mamdani, como tantos outros antes dele, está decidido a prosseguir com a busca pela reforma do Partido Democrata. Essa busca está fadada ao fracasso, como sempre esteve, mas por duas razões específicas, uma das quais, na verdade, aponta para o melhor e único caminho a seguir.

O primeiro impedimento, que é mais do que suficiente, é que toda a estrutura e o propósito do Partido Democrata são de não se reformar. Candidatos individuais podem gerar esperança de que a mudança é possível. Mas as décadas de tentativas provaram, repetidamente, que esses mesmos candidatos são normalmente cooptados pela liderança e pela estrutura do partido, comprada e paga pelos doadores capitalistas para os quais o partido trabalha exclusivamente. Você não pode mudar o Partido Democrata; o Partido Democrata muda você (36).

Para citar um exemplo próximo aos nova-iorquinos, a deputada Ocasio-Cortez passou de uma insurgente reformista apoiada pela DSA que atormentava a direita e encantava a esquerda a apenas mais uma democrata, interessada em dar cobertura política à direção de seu partido acima de quaisquer compromissos políticos, como o fim do genocídio (37). Em termos simples, a capacidade de fazer mudanças por dentro do Partido Democrata sempre vai se deparar com o maior, mais bem financiado e mais antigo oponente: o próprio Partido Democrata.

Dado o nível incrivelmente baixo a que a imagem do Partido Democrata chegou, é surpreendente que alguém queira se associar a ele (38). Em Nova York, um estado “azul” (democrata – N da T), os eleitores independentes não filiados a um partido superaram todas as inscrições em partidos nos últimos anos (39). Isso aponta para a outra razão pela qual o projeto de reforma do Partido Democrata está fadado ao fracasso — e porque devemos ter esperança nisso. Uma eleição não é um movimento; o ato de votar não é democracia. Sim, mais de 500 mil nova-iorquinos compareceram para dar a Mamdani apoio suficiente para vencer as primárias democratas, mas a vitória da agenda que ele traçou, por mais modesta que seja, nunca sobreviveria à série de obstáculos e sabotadores em posições de poder que se alinham contra ela simplesmente porque ele venceu uma primária ou foi eleito para um cargo. É o que pode nascer da campanha de Mamdani — com base na energia, no entusiasmo, na vontade de agir — que pode concretizar os objetivos e as visões que vão além de um candidato, uma campanha, uma eleição.

Essa mesma energia está hoje motivando a resistência às tropas de choque do ICE de Trump que sequestram nossos vizinhos. Está levando as pessoas a exigirem um sindicato melhor em nossas escolas (40) e salários equitativos para nossos prestadores de serviços jurídicos (41), e dando-lhes força para defender crianças trans que estão sendo atacadas (42). Está impulsionando o crescimento de grupos de ajuda mútua, redes de solidariedade à Palestina (43) e esforços de apoio antirracistas (44). Estamos em um período de notável ativação política independente. Mamdani foi o beneficiário dessa onda democrática muito maior e mais ampla da classe trabalhadora, que surgiu de baixo para cima. É hora de dar os próximos passos para construir um futuro livre do inevitável fracasso dos esforços de reforma do Partido Democrata e liberar a força de um movimento real para mudar os alicerces da nossa sociedade, começando aqui em Nova York.

Dadas as suas raízes materiais, a campanha de Mamdani e a sua vitória  não podem deixar de se entusiasmar os socialistas. No outro extremo do espectro, alguns repudiaram Mamdani como candidato por sua posição firme pelo Partido Democrata (45). Há mérito no argumento, mas não na conclusão. Mamdani está certamente totalmente comprometido com o tipo de agenda reformista que passou a dominar o pensamento estratégico de grupos como o Democratic Socialists of America (DSA), do qual ele é um membro dedicado de longa data. Ele é agora a personificação dessa crença na prática: se elegermos um número suficiente de democratas do tipo certo, o sistema poderá ser salvo e boas políticas poderão ser promulgadas.

Apesar disso, seria um erro trágico e autodestrutivo ignorar o legítimo aumento de entusiasmo e empolgação que esta campanha gerou, não apenas em Nova York, mas em todo o país. O momento Mamdani é apenas a mais recente iteração (Bernie, o Esquadrão, Brandon Johnson) de um caminho estratégico agora bem conhecido pela esquerda. Uma compreensão sóbria das limitações da estratégia eleitoral de Mamdani, de reforma de dentro para fora, deve ser combinada com uma campanha proativa de organização solidária para reconstruir as forças capazes de levar adiante as lutas já em andamento e pelo notável apoio que Mamdani conquistou.

(*) BC Hamilton é um escritor que mora no Brooklyn e já trabalhou como editor de livros antes de cobrir notícias locais em Nova York por quase uma década. Ele é membro do coletivo Tempest.

notes

1) «With $25 Million, Pro-Cuomo Super PAC Shatters Outside Spending Records»  Nicholas Fandos, 24/6/2025, The New York Times :“A candidatura do ex-governador Andrew M. Cuomo foi financiada pelo maior super PAC já criado em uma campanha eleitoral para a prefeitura de Nova York”.

2) «Cuomo Backers Dumped $87 Per Vote Into a Losing Cause – and Some Donors Are Now Vowing to Spend More» Greg B. Smith, 25/6/, The City

3) «City leaders accuse police commissioner of spreading ‘false narratives’ on bail ”  Erin Durkin, 2/6/2020, Politico

4) «How Zohran Mamdani Brought New Voters to the Polls», Emma G. Fitzsimmons, Alex Lemonides e Irineo Cabreros, 29/6/2025, The New York Times

5) «Police Commissioner, Heiress and Maybe a Future New York City Mayor» Elisabeth Bumiller et Maria Cramer, 9/4/205, The New York Times

6) «Tisch overrules NYPD judge, clears officer who killed unarmed man during Bronx traffic stop», Charles Lane, 3/7/2025, Gothamist. 

7) «New York City Mayor Eric Adams Charged With Bribery And Campaign Finance Offenses», United States Attorney’s Office, 26/9/2024.

8) «Eric Adams’s Turkey Ties: Travel, Donations and a Meeting With Erdogan» , Emma G. Fitzsimmons, 14/11/2023, The New York Times.

9) «Chuck Schumer in America: a warning – a review of senator Chuck Schumer's Antisemitism in America», Dan Berger, 1/7/2025, Spectre

10) «Democrats begin to pick up the pieces after their disastrous 2024» Eric Garcia, 13/11/2024, Independent, versão britânica. 

11) «Voters rejected a ‘woke’ America — time for Democrats to listen and learn», Austin Sarat, 11/11/2024, The Hill

12) «Chuck Schumer links rise in left-wing antisemitism to 2008 crisis, wokeism of ‘radical fringe’ in new book», Ryan King, Victor Nava et Josh Christenson, 18/3/2025, New York Post. 

13) «It’s Time for a Daring Political Maneuver, Democrats », James Carville, 25/2/2025, The New York Times.

14) O voto preferencial permite aos eleitores classificar os candidatos por ordem de preferência. Se nenhum candidato atingir 50% dos votos de primeira escolha, o candidato com menos votos é eliminado e os seus votos são redistribuídos de acordo com as preferências seguintes, até que um candidato ultrapasse os 50%. Isto favorece os candidatos consensuais.

15) « Andrew Cuomo forms ‘Fight and Deliver Party’ after ‘proof’ of Democratic Party failing » , Ross O’Keefe, 5/7/2025, Washington Examiner

16) « Fact check: Is Zohran Mamdani a communist? », , Ella Moore et Samy Sherman, 27 juin 2025, Al Jazeera

17) «Kirsten Gillibrand apologizes to Zohran Mamdani over ‘jihad’ claim »,  Edward Helmore, 2/7/2025, The Guardian. 

18) «Hakeem Jeffries says NYC hopeful Mamdani needs to 'clarify' his position on 'globalize the intifada' » , Lindsay Kornick, 30/6/2025, Fox News

19) «Trump vows to 'save New York City' from Zohran Mamdani: 'I hold all the levers' », Angers Hagstrom, 2/7/2025, Fox News. 

20) “Assassino de avós” no texto original. Ler  Rebecca C. Lewis, 5 mars 2025, City & State New York

21) «Andrew Cuomo’s campaign for New York City mayor touts endorsements from dozens of politicians on his website», Abhinanda Bhattacharyya et Jeff Coltin, 18/6/2025, Politico ; «Mike Bloomberg to endorse old foe, Andrew Cuomo, in mayor's race», Sally Goldenberg et Nick Reisman, 10/6/2025, Politico ; «More Republican money for Cuomo», Jason Beeferman, 10 juin 2025, Politico.  

22) «Amid Mamdani’s call for rent freeze, NYC board approves up to 4.5% hike», David Brand, 30/6/2025, Gothamist.  

23) «Mamdani plays socialist to his base, realist to everyone else», Erik Engquist, 11/6/2025, The Real Deal  ; «New York’s Housing Insecurity By The Numbers» , 24/3/2020, NYU Furman Center Blog.  

24) «Can Mamdani Persuade New York to Elect Its Youngest Mayor in a Century?», Nicholas Fandos, 10/6/2025, The New York Times

25) «See Who Your Neighborhood Is Funding in New York City’s Mayoral Race», Keith Collins, 6 mai 2025, The New York Times. 

26) «As Donors Work Against Mamdani, Top Democrats Stop Short of Backing Him »  Dana Rubinstein, Benjamin Oreskes e Michael Gold, 25/6/2025, The New York Times. 

27) «As Mamdani Rises, Anti-Muslim Attacks Roll In From the Right»,, Liam Stack, 26 juin 2025, The New York Times. 

28) «Trump vows to ‘save’ New York City from ‘communist lunatic’: ‘I hold all the levers’», Howard Koplowitz, 2/7/2025, Al.abama. 

29) “The MOST Racist Fox News Clip EVER”, no youtube, 26/1/2025.

30) «3 Key Issues Surrounding Mamdani’s Proposed New York City Tax Increase » , Nathan Goldman, 25/6/2025, Forbes

31) Albany é a capital do estado de Nova York. «Can Zohran Mamdani’s Agenda Survive Albany?»; «Hochul declines to endorse Mamdani, mispronounces his name», Rebecca C. Lewis, 26/6/2025, City & State New York.  

32) «How Zohran Mamdani Can Succeed as Mayor» , Peter Dreier, 30 juin 2025, Jacobin

33) Drop dead : cair morto ou deixar morrer. «The Night New York Saved Itself from Bankruptcy», Jeff Nussbaum, 16/10/2015, The New Yorker.  

34) «’Fear City’ Explores How Donald Trump Exploited the New York Debt Crisis to Boost His Own Fortune», Naomi Klein, 23/4/2017, The Intercept

35) «How “the people’s mayor” saved public power» , 2/7/2021, The Intercept

36) «Within and without? A great red hope in NYC’s mayoral race », BC Hamilton, 21/4/2025, Tempest.  

37) «Alexandria Ocasio-Cortez Is Just a Regular Old Democrat Now», Freddie deBoer, 25/7/2023, New York Magazine.

38) «2 key findings on Democrats’ brand problem from the new CNN poll » , Aaron Blake, CNN.  

39) « More blue: Democrats, independents see New York enrollment boost, new data show », Jon Campbell, Sean Lahman, 2/11/2020, Democrat & Chronicle

40) «Our working conditions are our students' learning conditions», Movement of MRE rank and file Educators. 

41) com 100% dos membros votantes, 100% votaram a favor de autorizar uma greve no Goddard Riverside Law Project, publicação no instagram de grlpunion.)

42) «Defending trans students in NYC schools », Danielle Bullock, 28/1/2025, Tempest. 

43) «Jewish Organizations Are Fighting Back Against Khalil Deportation», Shane Burley, 13/4/2025, Truthout

44) «Over 260 Groups Oppose Racist Entry Ban from Trump Administration», Muslims for just Futures. 

45) «Why I’m Not Voting for Zohran… Or Any of Those Others Either», Carmin Maffea, 20/5/Left Voice. Left Voice é o braço estadunidense da Fração Trotskista. 

traducteur
João Machado